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terça-feira, 27 de março de 2012

Lembrança

O espasmo de ver a lua
É o mesmo de se sentir amado
Passa o tempo, passa a vida
E os amores voltam, em outras faces
Como a lua, que retorna a cada a noite
Como se fosse a primeira vez, a primeira noite
O primeiro amor.

segunda-feira, 19 de março de 2012

A Menina das Rosas

Era um dia feliz de todo dia
E a nuvem passava, amassada
Em correria
E o dia começava a terminar
Quando sofria, terminava em começar
A agonia e a tristeza da alegria
E a Rosinha, onde está?
Na árvore, nos olhos, na rosa
Menina esperta, vivida de sete anos
Vivida, por toda vida, em toda rosa
Onde estará?
Menina sapeca, levada da breca
Lavada de alma, ternura deságua
Em botões no canteiro dos cravos
E os olhares, tão rasos, a procura
Da menina, na lua
- Vai lá passarinho, procure a menina
Traga pelas tranças, semeia suas rosas
Semeie no jardim, das rosas...
E onde estará rosinha?
La no céu, dormiu uma pétala
No seu rosto, estava seu sorriso, germinando
Seus passos sobre o chão...
Onde estará Rosinha?
Tão longe silenciosa, no céu em prosa, constante vida
A morte da rosa, seu coração cativa
Onde estará, a vida?
Nos ombros de Deus
Ou aos olhos, a deriva?...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Medo

Me encontraste em sua alma?
Foste sua, o contraste de minh'alma?
Não mais... Me despindo assim, não posso mais
Fico sem olhos, sem carne, sem berço... Mas não sem alma
Falo da sua, que se tornou carne, um dia, e se virou pra lua
Em um banho de agonia
De ser preso, louco, aflito, por si mesmo
Em querer correr, na ventania de nós mesmos
E o medo, lhe toma, lhe corroe, sucumbi os pêlos
Tens medo do próprio medo
Não sabes se a sombra é o escuro, ou a luz inoperante
Que abandonou o corpo e deitou-se em morte
Não sabemos... Se o abismo é incoerente aos passos
Ou se somos rastros ao próprio abismo
Somos fardos do inconstante, da presença alheia
Se escutamos aos ouvidos, ou bebemos sob os olhos
Alimentando-se de lágrimas, em um corredor de rosas
Sangrando por seus espinhos e se tornando pétalas
Esse abissal pensamento, da vida, de não vivê-la
De querer o vácuo, de querer o vão
Em uma veia inócua, caminhando lentamente
Ao fundo do coração.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Riacho das Rosas

Áurea, permanente áurea
Bem distante, radiante a sombra
Os rios, calados, sussurram, alados
E o frio, abraça o lírio, aflige
A serpente, que em "S" se forma
No ar, bem-te-vi, sem existir
Caindo da chuva, na dália
Disfarça, faceira
O botão, que ilude
A rosa, matreira
Nadando e olhando
Os cravos tão pertos, da alma
Em sonhos, grená
Violeta, viola esse ausente
Disfarça, o sorriso semente
Me brota, altiva
Não durma
Foste a lágrima da bruma
Que deserta, acontecendo
Nas pedras, nasceu
Um ventre cardume florido
De pássaros.. Morreu
Sem saber, porque ter vivido.

Profundo

Eu quero viver, quero sorrir
E me dizer, pra onde ir
Ver os pássaros cantar, quero nascer
E vendo estrelas, a flutuar, dentro dos olhos, amanhecer
Exalando o porvir do acontecer, e me amar
Amar a todos, e consolar
O céu tão virgem que derrepente
Escorre lágrimas a molhar
A pele, rude e ardente
E poder me encontrar
Ouvir as ondas das sombras no mar
Em cardumes a pescar
Quero nascer, quero morrer
Olhar o céu e ver a lua domindo
Sonhando, com nosso amor, pensando no nosso amor, lembrando do nosso amor
Refletindo sob o peito, no coração, que por dentro, estará desfeito em essências
Revoando as bordas, onde estarão minhas vírgulas, em suas veias minhas reticências.