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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Tarde de Dezembro

Há de se convir, que os pensamentos não se concluem
Que as palavras falham, as notícias escorrem
E o velhos se tornam crianças
De tanto acharmos a verdade, acabamos ficando com a mentira
E sozinho; com ela apenas
De toda felicidade incoerente, basta a vida
Sonhar, como uma ave venérea
Sem fôlego, sem paisagem
Anoitecer, como um berço inerte e com pai e mãe à disposição
Derramar num solo profundo, tudo que for próspero e findo
Porque de infinto basta nós
Dizer que a loucura te deixou para trás, é tolice
É ruir a humanidade, imaginar que as pegadas são apagadas
Há de ter reticências, de ter continuação
Porque não vivemos para acabar, o medo da morte é insípido ao lado do pós morte
Não detenhamos a verdade, progredir é digno, é de ser eterno
Andar descalço, em estrada esburacada, é o melhor modo de sentir a vida
Cheia de curvas, como corpo de mulher
Porém cheia de percalços e buracos, como corpo celeste

Morte é apenas o que você diz, escutar e vida...
Há de se entender o que não foi entendido
As entrelinhas, são as margens da sabedoria
Entrar a fundo, de cabeça, num poço sem destino
Sem vontade de voltar... É para isso que estamos aqui
Apenas como corpo celeste, apenas como alma da terra.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Passagem

Quando além me encontrava
Além me sorria
Dizia que amava
E a tal respondia

Como simples, fiquei em apenas solidão
Dizia por onde iam os pássaros
A que passos iam as mãos
De mãos dadas faziam laços
Em abraços sob vãos

Girando as rodas, e as aves pousando
Sem asas, planando
Como um coração em morte
Morte viva da desordem, da carência
Da angústia, pobreza

Assim fazia o coração, quanto mais batia
Mais ardia,
quanto mais o via, mais perdia a solidão
Eu morava ali, porém não sabia quem lá estava
Quem lá dormia
Sabia aonde andava e com quem andava
Mas não fazia se quer ideia por onde entrar
Porque sair, para que voar.

Voar é como dizer, palavras são as folhas
O tempo, e o vento...
Minhas flores me dizem... O que dizer sobre a vida?
- Que ela é simples, que não a morte que se atreva a dizer não
Mas a de ter sabedoria, pois quanto mais vida temos em mãos
Menos tempo temos na vida.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Ao Som de um Caminho Infinito

Caminhando... Descia pela grama longa, que ao horizonte beijava Deitava ao pé de qualquer árvore, recolhia a flor A beira mar Num gole de coragem, num instante de perdão Que não teve coragem de perdoar De esperar o instante a qualquer lugar Ouvi distante, o restante cantar E de tudo errado, deixei voar Voar o que não tinha, para o meu lugar De tudo via, o que não via lá Há de ser eterno, há de cair no mundo A pétala infinita, sólida que já não há O haver em vão, de tantos passos Passos meus que guiem, quem quiser guiar.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Pássaro e o Boi

Passarinho acordou em um "bom dia" e olho o céu
Olhou o mar, a terra, o pasto, o espelho
Passarinho sabia caminhar, tinha vontade
Pernas feitas e asas a postos
Penas retintas, cor mais bonita não há
Passarinho viu nas nuvens, o que deveria fazer
Ele há de se curar, há de ser pássaro, um dia
Passarinho tentou andar, e levar sementes
Passarinho sabia o que devia fazer
Era esperto, ouvia os "piá" dos companheiros
Pássaro que é pássaro, caminha pro sul
Passarinho sabia o que devia fazer
Todo dia, vinha cabeça branca lhe dar comida, vinha dizendo
- Vem passarinho, come na mão da vovó
Ele comia, sabia o que devia fazer
O dia esfriou, não tinha frutos e vovó no leito, recolheu
Seus amigos avoaram, o sul era vida
Passarinho era cego, só ouvia os caminhos dos outros
Passarinho sabia o que devia fazer
Mas não fazia, era cego, pobrezinho
Deitou, mesmo sem ver, olhou, para aquilo que foi um dia, a casa
Bebeu o que era água e viu o que não via
Boi sentindo a dor da cegueira, cedeu o colo para o pássaro caminhar
Ele subiu no lombo do boi e caminhou, primeira vez
Passarinho cego, dizia:
-Vai boi, pro sul! Pro sul!
Boi mugia, ao sul....
Passarinho chegou ao sul, continuou sem ver...
O boi, calmo e como nunca fosse amar, amou
O passarinho só com o amor do boi ficou
Sem ver a forma do boi e a vontade de morrer
Passarinho sabia o que devia fazer
Ao ponto mais sul, que se tinha notícia
Boi já velho, sem sombra de um dia melhor, exauriu
Na boca do mar, e sem para onde ir
Olhou em si, e cedeu a gratidão ao amigo
Era só pena, que tinha
Era só asa, mas sabia delas, e ao boi, entregou-as
Sem medo de amar o que não tinha, e amando o que já teve.