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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A Incapacidade de Onde Ir

Corpo caminha sobre essa estrada
Essa estrada que altiva e pálida
como ar, é negra
Estou sob, e subterrâneo a ela
Como náusea
A penso, a descrevo, me submeto às tuas ausências
Estrada de caminhos longos, menores que as que escrevo
Estradas de pedras infinitas, de tempos lasso
Subcutâneos termos entranhados
nos corações de quem a passa
Medo? Sempre o temos, é advento da vitória
Não há nada sem ele, pois com ele existe
todas esperanças da vida
E aquela estrada só crescia, suas pontes feitas de arame
cabiam carros de madeira; madeira fina, como a lua que a espreitava
Diante à nuvem que se fazia corrida, tropeçava
no caminho seguinte; como nós, sem termos caminhos
seguintes
A lembrança mata a alma a cada passo, ter um passo
dói mais do que ter certeza que ele não existe
Ter o pé descalço, a mão já lavada no córrego que seguia
Pegar as flores de um chão remoto, chão que não se abre
Chão esse que é leito de morte
Que têm entranhas, que segue sangue, que segue as vistas
da memória
O mato que recobre a paisagem é seco, têm ramos de certezas
Debruça sobre paredes nuas, mulheres nuas que dançam num mar inexistente
que só eu o vejo
Permito-o existir
Firmo-me mais do que o presente, venho do passado
trago as idades para as pessoas que aqui passarão; futuras
Minha insana voz que castiga esse eco trêmulo, de linha reta
lunar e oblíqua, que possui enfermos nas encruzilhadas
cruz ilhas e cruzes viradas
Mas, nada me distrai, nada me ocupa em eco, em ocos
sentimentos
Sigo o caminho que por fora, está dentro de mim
Sigo aonde devo ir, de onde nunca sai
Permaneço em cada milímetro que passo, tenho a sombra
do restante, que encobre a face do sol
Eu o ilumino, terrível máquina silvestre
De cervos e espadas que cortam o ar, ar inócuo
sem força para respirar
Puxo, sugo a fumaça lancinante desse céu infinito
Ela entranha sob as veias da minha terra
Corre alma a dentro, como se fosse um silêncio indissipável
Meu peito se enche, infla como balão de hélio
E voa sobre uma terra navegável
Descubro que voltei para onde não fui
Sou da imensidão das formas, desses astros
Incríveis astros feitos de pão e água
Tudo que não pode faltar, ou haver
A ponte para o sublime está a diante
Feita de ouro, e baixa, não sucumbe a minha auréola
Que de ouro, se abstrai aos olhos estelares
Caminho, dedo-a-dedo, sem cair
Com o peso do mundo aos ombros, não o sinto
Me deixo estar
Ultrapasso-a, habito o inabitável
Chego e abro a porta do céu;
há apenas um ser me esperando
Meu corpo, seco e vazio.

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