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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Virgem Mente de Antônia

A vida sofre por ter um amor
Ela era menina dos olhos de seu pai
Tinha lágrimas da caatinga do sertão
Ela dormia no canto escuro de sua casa
Ela dormia em sua cama quente e macia, árdoa e vazia
Ela brinca com sua boneca de barro
Ela chora visões de um mundo melhor
Anda pelos espinhos de cactos do sertão
Cura sua sede com o sangue do gado
Que escorre na erosão do pecado
Ela vive na míngua do nascer do sol
Pensa que sabe o que é viver
Vive sem saber o que é comer
Come sem saber o que é beber
E bebe sabendo o que é morrer
Luta por ter alguma voz para ouví-la
Grita por dentro para saber o que é ler
Vive em um mundo de Deuses esquecidos por Deus
Um mundo sem vaidade, ganância e judiação
Porém sem vida e nem perdão
O sangue jorra de suas pálpebras
Que se cansa de chorar ao anoitecer
Sua pele já é seca e rachada
Que nem o chão onde se deita
Um clarão aparece no céu
Seria Deus ou então um pouco de chuva para nos saciar
Ou então um sonho de um dia feliz
Sua mente é a pura que nem a visão dos anjos
Acredita na bondade dos homens
Vive acreditando na santidade dos santos
Para quem reza toda noite
Em sua cabeceira de madeira podre
Mente sem saber o que é pecado
Pela única falta de saber o que dizer
Estende sua roupa sabendo que não irá chover
Olha para as estrelas sem saber voar
Quem dera que fosse só não voar
Sem saber amar, chorar e cantar
Por isso sabe o dia de amanhã
Na amargura de seus pais ao acordar
E vive eternamente com sua mente pura e limpa
Vive sim, Antônia com sua virgem mente e carente

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