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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Paisagem

Paisagem

Era a alma branca, a tela branca
A ilusão branca, os mesmos passos
Tive aqui o tempo de ter, de sentir, criar
Minha miragem, meu pássaro infinito
Minhas reticências...
Nessa tela insípida, criei minha sopa de arbustos
Sem galho... O maior deles era eu
De tronco a troco, sem força pra me erguer
E o vento cortando, um açoite de velho
Mais duro que amor... Mais pobre
Na minha cabeça, sempre pousa um pássaro
Inerte, permanece branco como o quadro
Pronto a partir... Refuga, é a saudade...
Maldita árvore podre que o chama
Sem cabelo, nem dentes... Saudade não morde
Nos come aos poucos, digerindo o coração frio
Nesse líquido avesso
Todas as folhas passam, o que não passa é a vontade de voar
A nuvem que abana, a raiz que enclaustra
A pele que enruga a carne, que nem fala mais essa língua...

Toda forma de vida habitável, é incoerente
As temos, e ao mesmo tempo deixamos de ter
Não confiemos em nós, os olhos são o espelho da solidão.

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