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terça-feira, 3 de julho de 2012

O Pertence


Ainda a vida nos pólos dos olhos
Nas certezas de saber amar
Ainda a rastros nos solos, nos mares
Ainda a cérebros nos bêbados
E hálitos nas sombras
Ainda existe sofrimento, nos âmagos
E sem sofrimento não basta, os amados
E o carinho calmo, o afago inerte da consolação
É pontual, como a hora da aurora
Somos a catedral dos sonhos, perdidas, pelos ventos
Somos insensatez do ato, a ansiedade dos fatos
Ainda a resto nos ralos e pobreza na alma
Ainda somos vagos, na imensidão das cores
Ainda não somos cores, ainda não somos nada
Somos os ares profundos, de beleza afável
De língua vulgar, de pele soberba
Ainda a diálogos nos sentimentos
Possamos ver na arte, o que restou do firmamento
Ainda a pétalas a desbotar
Mal-me-quer a fazer, a roubar, e rosas a luzir
Ainda existem sonhos, não realizados
O saber indescritível do amanhã
A solidão coesa da hora do sono
Ainda a vácuo no coração, pedindo perdão
Ainda a vontade de ser o outro, de amar o próximo ou o distante
De ser coerente a si mesmo, porém sem pensamento
Ainda a esperança, na indecifrável morte de nascer contente
Da complacência materna, da atitude voraz da raça
A inutilidade das mãos, onde existem abraços mais ternos
Ainda existem praias desertas, nos seus braços abertos
Permanece indecifrável o caminho do perdão
Permanece notável, a idéia da madrugada
Permanece o medo, de uma noite sem amada
Permanece a amada, com medo eterno dos olhos da madrugada
Ainda existem amadas para serem descobertas
Vertigens para serem admiradas
Ainda persistem as loucuras, os vendavais, as vacâncias
A ilusão dos astros, as mãos sem dono
Ainda vaga, o barco da verdade
Ainda rasga véu, no altar da santidade
Nada é para sempre, nada nos pertence
Ainda existe pó, no tapete que lhe assola
Ainda existe eu, na alma que te encobre.

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