Páginas

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Pássaro e o Boi

Passarinho acordou em um "bom dia" e olho o céu
Olhou o mar, a terra, o pasto, o espelho
Passarinho sabia caminhar, tinha vontade
Pernas feitas e asas a postos
Penas retintas, cor mais bonita não há
Passarinho viu nas nuvens, o que deveria fazer
Ele há de se curar, há de ser pássaro, um dia
Passarinho tentou andar, e levar sementes
Passarinho sabia o que devia fazer
Era esperto, ouvia os "piá" dos companheiros
Pássaro que é pássaro, caminha pro sul
Passarinho sabia o que devia fazer
Todo dia, vinha cabeça branca lhe dar comida, vinha dizendo
- Vem passarinho, come na mão da vovó
Ele comia, sabia o que devia fazer
O dia esfriou, não tinha frutos e vovó no leito, recolheu
Seus amigos avoaram, o sul era vida
Passarinho era cego, só ouvia os caminhos dos outros
Passarinho sabia o que devia fazer
Mas não fazia, era cego, pobrezinho
Deitou, mesmo sem ver, olhou, para aquilo que foi um dia, a casa
Bebeu o que era água e viu o que não via
Boi sentindo a dor da cegueira, cedeu o colo para o pássaro caminhar
Ele subiu no lombo do boi e caminhou, primeira vez
Passarinho cego, dizia:
-Vai boi, pro sul! Pro sul!
Boi mugia, ao sul....
Passarinho chegou ao sul, continuou sem ver...
O boi, calmo e como nunca fosse amar, amou
O passarinho só com o amor do boi ficou
Sem ver a forma do boi e a vontade de morrer
Passarinho sabia o que devia fazer
Ao ponto mais sul, que se tinha notícia
Boi já velho, sem sombra de um dia melhor, exauriu
Na boca do mar, e sem para onde ir
Olhou em si, e cedeu a gratidão ao amigo
Era só pena, que tinha
Era só asa, mas sabia delas, e ao boi, entregou-as
Sem medo de amar o que não tinha, e amando o que já teve.

Nenhum comentário: